tempos médios de espera

Hospital Particular Alvor

00h13m

Atendimento Permanente

Hospital Particular Gambelas

00h49m

Atendimento Permanente

00h00m

Pediatria

Hospital Particular da Madeira

01h16m

Atendimento Permanente

00h00m

Pediatria

Madeira Medical Center

Atendimento Médico
não programado

Dr. Pedro Morais Silva

Imunoalergologista

 

 

Dr. Pedro Morais Silva

Alergia a vacinas contra covid-19
Perguntas e respostas

HPA Magazine 16


A s vacinas contra o vírus SARS-CoV-2 são, atualmente, a resposta mais promissora para o controlo da pandemia de COVID-19. No entanto, no seguimento de notícias acerca de reações alérgicas graves após a vacinação, é compreensível que a população geral e os profissionais de saúde apresentem dúvidas quanto à segurança das mesmas. 
Este artigo tem como objetivo principal tentar esclarecer algumas das dúvidas mais frequentes, à luz do conhecimento atual (maio de 2021), de modo a promover uma campanha de vacinação rápida, eficaz e segura que garanta a quebra do ciclo pandémico. Visto tratar-se de uma situação em atualização constante, é recomendado consultar regularmente as orientações da Direção-Geral de Saúde (DGS) [covid19.min-saude.pt/normas], da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica [spaic.pt] e de restantes entidades idóneas.


Alergia a vacinas contra covid-19


 

QUAIS AS VACINAS DISPONÍVEIS EM PORTUGAL? 
SÃO TODAS EFICAZES E SEGURAS?

Até à data, estão aprovadas e disponíveis em Portugal a vacina da Pfizer/BioNTech, Moderna, Johnson & Johnson e AstraZeneca. Estas vacinas são diferentes no seu mecanismo, mas todas demonstraram ser seguras e eficazes. As vacinas produzidas pela Pfizer/BioNTech e Moderna utilizam um fragmento do código genético de SARS-CoV-2 envolvido numa gotícula de gordura, que codifica uma das principais proteínas do vírus, responsável pela entrada nas células. O sistema imunitário reconhece que a proteína é estranha e que tem um potencial agressor para o nosso organismo e, consequentemente, glóbulos brancos de defesa são educados a combater o vírus, produzindo anticorpos contra o vírus. 
As vacinas produzidas pela AstraZeneca e Johnson & Johnson, partilham um mecanismo semelhante, utilizando um adenovírus modificado, como veículo do código genético da proteína do vírus SARS-CoV-2. Este vírus modificado não é replicativo, pelo que não causa uma infeção, sendo eliminado após entregar a proteína. Do ponto de vista imunológico, o veículo é diferente, mas a proteína apresentada ao sistema imunitário é a mesma nas 4 vacinas. Há ligeiras diferenças na percentagem de eficácia de cada vacina, mas todas demonstraram ser eficazes e seguras.
Em Portugal, todas as vacinas são fornecidas gratuitamente. No entanto, não é possível cada doente escolher a vacina que irá receber.

QUAIS SÃO OS GRUPOS PRIORITÁRIOS À VACINAÇÃO?
Segundo o atual plano de vacinação, tenciona-se vacinar toda a população. Contudo, dada a escassez de vacinas, e estratificação do risco para contrair a infeção por SARS-CoV-2, foram definidos grupos prioritários, considerando-se assim:
Fase 1: serão vacinados os profissionais de saúde, todas as pessoas com mais de 80 anos e pessoas com mais de 50 anos que tenham doenças graves, como insuficiência cardíaca, doença coronária ou DPOC sob suporte ventilatório e/ou oxigenioterapia de longa duração;
Fase 2: serão vacinadas todas as pessoas com mais de 16 anos, por idade decrescente, sendo dada prioridade a pessoas com outras patologias consideradas de risco como diabetes, neoplasia maligna ativa, doença renal crónica, insuficiência hepática, obesidade, entre outras, de acordo com os critérios estabelecidos na Norma da DGS 002/2021, atualizada a 04/05/21.

EM RELAÇÃO AO RISCO DE DESENVOLVIMENTO DE UMA REAÇÃO ALÉRGICA, QUAIS SÃO ATUALMENTE AS CONTRAINDICAÇÕES PARA A ADMINISTRAÇÃO DAS VACINAS CONTRA SARS-COV-2 ATUALMENTE DISPONÍVEIS?
De acordo com as atuais Normas de Orientação Clínica da DGS, são consideradas contraindicações:
a) história de alergia já conhecida a um dos excipientes da vacina a administrar; 
ou 
b) história de anafilaxia a uma toma anterior da vacina contra o vírus SARS-CoV-2.
Estes doentes devem ser referenciados, com prioridade urgente, a um serviço de Imunoalergologia, de forma a serem avaliados para estratificação do risco e estudadas eventuais alternativas.
Além disso, devem ser também referenciados à consulta de Imunoalergologia, os doentes que apresentam história prévia de:
a) reações anafiláticas a outras vacinas (não-SARS-CoV-2);
b) os doentes com história de anafilaxia idiopática;
c) os doentes com alergia confirmada a excipientes (mesmo que não presentes nas vacinas SARS-CoV-2);
d) os doentes com mastocitose sistémica ou doenças proliferativas dos mastócitos. 

AS REAÇÕES ALÉRGICAS ÀS VACINAS CONTRA COVID-19 SÃO FREQUENTES?
Não. Estima-se que estas ocorram em menos de 1 em cada 10 000 administrações. No entanto, à semelhança de qualquer medicamento, as vacinas poderão desencadear efeitos indesejáveis que, por vezes, são incorretamente interpretados como alergia.
Os efeitos adversos mais frequentes incluem:
a) reações no local da injeção;
b) dor de cabeça, dores musculares ou das articulações, febre, sensação de cansaço, enjoos e mal-estar geral. Nenhum destes sintomas é devido a uma reação alérgica e normalmente resolvem-se espontaneamente no prazo de 3 dias.


QUAL PARECE SER A PROPORÇÃO DE DOENTES QUE APRESENTA UMA REAÇÃO ADVERSA GRAVE ÀS VACINAS?
Reações alérgicas graves a vacinas são, em geral, muito raras. Estima-se que ocorram em cerca de 1,31 por cada 1.000.000 de doses administradas.
Os números de reações associadas às vacinas Pfizer/BioNTech e Moderna pareceram inicialmente ser superiores às restantes, mas os dados cumulativos não encontram diferenças estatisticamente significativas.


QUE PRECAUÇÕES EXISTEM ATUALMENTE PARA SALVAGUARDAR POSSÍVEIS REAÇÕES ALÉRGICAS A VACINAS?
As campanhas de vacinação decorrem em locais com equipamento médico apropriado para o tratamento de reações alérgicas graves, incluindo anafilaxia. Visto que a maioria das anafilaxias pós-vacinação ocorrem nos primeiros 15 minutos, todos os doentes permanecem em observação durante 30 min.  após a administração.
Em doentes com risco elevado de reações adversas à vacina, esta deve ser administrada em meio hospitalar, o que deverá ocorrer sob orientação da Imunoalergologia, após avaliação do caso.


 

UM DOENTE ALÉRGICO À PENICILINA OU A ANTI-INFLAMATÓRIOS PODE SER VACINADO?
Sim. A alergia à penicilina ou a outros betalactâmicos e a anti-inflamatórios não é uma contraindicação para a administração das vacinas atualmente disponíveis, nem implica a sua administração em âmbito hospitalar.
Os doentes com uma história de hipersensibilidade a anti-inflamatórios não previamente esclarecida/investigada devem idealmente ser referenciados a consulta de Imunoalergologia, para determinação de alternativas seguras, que podem ser necessárias para o tratamento das reações adversas pós vacinais mais frequentes, como cefaleia, mialgias e febre.

A SERINGA CONTÉM LÁTEX? UM DOENTE COM ALERGIA A LÁTEX PODE SER VACINADO?
De acordo com os produtores, as vacinas Pfizer/BioNTech, AstraZeneca, Johnson & Johnson e Moderna não contêm látex. Ainda assim, pode ser importante informar o profissional de saúde de uma situação de alergia a látex, de forma a evitar a utilização de material hospitalar com látex durante o procedimento.
/ OS DOENTES COM ALERGIA ALIMENTAR GRAVE PODEM SER VACINADOS?
Sim. Após revisão dos casos de alergia relacionados com a administração de vacinas contra o vírus SARS-CoV-2 não foi identificada qualquer relação com alergia alimentar.

ALGUMAS VACINAS SÃO CONTRAINDICADAS EM DOENTES COM ALERGIA AO OVO. AS VACINAS CONTÊM PROTEÍNAS DE OVO?
Não. As vacinas Pfizer/BioNTech, AstraZeneca, Johnson&Johnson e Moderna não contêm proteínas de ovo.

OS DOENTES ALÉRGICOS A ÁCAROS OU A PÓLENES PODEM RECEBER A VACINA CONTRA O VÍRUS SARS-COV-2? E OS DOENTES QUE ESTÃO A REALIZAR IMUNOTERAPIA COM ALERGÉNIOS (“VACINAS PARA A ALERGIA”), PODEM SER VACINADOS?
Sim. A alergia a alergénios respiratórios não é uma contraindicação para nenhuma das vacinas atualmente disponíveis. Igualmente, os doentes sob imunoterapia com aeroalergénios podem ser vacinados, sendo aconselhada pelo menos uma semana de diferença entre a vacinação contra a SARS-CoV-2 e a administração de imunoterapia, assim como qualquer outra vacina, como a da gripe ou a vacina antipneumocócica.

QUAL O PAPEL DA ALERGIA AO POLIETILENOGLICOL (PEG) E POLISORBATO 80 NAS REAÇÕES ALÉRGICAS ÀS VACINAS?
As vacinas mRNA Pfizer/BioNTech e Moderna contêm PEG. Os PEG existem em diferentes pesos moleculares (também designados de macrogóis) são excipientes frequentemente presentes em medicamentos e cosméticos, pelo que é provável que a maior parte da população tenha contacto com estas substâncias ao longo da vida.  Suspeita-se que algumas das reações alérgicas que ocorrem com estas vacinas sejam devidas a estes compostos, mas serão necessários mais estudos para esclarecer essa relação. A alergia a PEG é muito rara, mas nestes casos, a sua existência constitui uma contraindicação para a utilização de vacinas mRNA. 
A vacina AstraZeneca e Johnson & Johnson não contêm PEG, mas um excipiente similar chamado polisorbato 80. A alergia a polisorbato 80 parece, no entanto, ser mais rara do que a PEG. Outras vacinas, como a contra a gripe, contêm polisorbato 80.
Deve suspeitar-se de alergia a excipientes sobretudo nos casos de doentes com episódios de suspeita de reação alérgica (sobretudo se anafilaxia) com múltiplos fármacos não quimicamente relacionados entre si.

OS DOENTES COM ASMA APRESENTAM RISCO MAIS ELEVADO DE SOFRER UMA REAÇÃO COM UMA VACINA CONTRA SARS-COV-2?
Não. No entanto, tal como com outras vacinas, é recomendado que a asma se encontre controlada no momento da vacinação.

OS DOENTES COM HISTÓRIA DE ANAFILAXIA A VENENO DE ABELHAS OU VESPAS PODEM RECEBER A VACINA?
Sim. Alergia a venenos não é uma contraindicação para a administração das vacinas atualmente disponíveis. 
No entanto, uma doença associada à anafilaxia a venenos, a mastocitose sistémica, é indicação para administração da vacina em meio hospitalar.

OS DOENTES QUE REALIZARAM PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS DE PREENCHIMENTO COM ÁCIDO HIALURÓNICO PODEM SER VACINADOS?
Existem alguns relatos de doentes que apresentaram edema nos locais de administração de ácido hialurónico ou hidroxilapatite de cálcio após a vacinação. As reações reportadas ocorreram com a vacina Moderna e não foram consideradas graves. Não parecem ter ocorrido devido a hipersensibilidade a nenhum dos compostos envolvidos. É recomendado atualmente pela Sociedade Americana de Dermatologia Cirúrgica que exista um intervalo de 3 semanas entre procedimentos estéticos de preenchimento e a administração da vacina contra SARS-CoV-2.

OS DOENTES COM COMPROMISSO DA IMUNIDADE PODEM RECEBER A VACINA?
As vacinas mRNA e com vetor adenovírus não são vacinas vivas e não podem provocar infeção. Por esse motivo são globalmente consideradas seguras para administração em doentes imunocomprometidos. No entanto, de acordo com a patologia de base, alguns doentes poderão apresentar uma resposta de memória imunológica diminuída a vacinas.

TENDO EM CONTA QUE EXISTEM MAIS VACINAS PARA SARS-COV-2 EM DESENVOLVIMENTO, FAZ SENTIDO AGUARDAR POR UMA NOVA VACINA COM MENOS ALERGENICIDADE?
Existem atualmente diversas vacinas em desenvolvimento. Cada vacina é diferente e estão a ser testadas diversas tecnologias de administração. No entanto, ainda não são conhecidos todos os ingredientes das vacinas futuras e não existe motivo para acreditar que serão mais (ou menos) seguras do ponto de vista alergológico que as atualmente disponíveis. Não é recomendado adiar a vacinação a nenhum doente alérgico, exceto se apresentar as contraindicações descritas acima.


Links úteis e referências de apoio
•CDC. COVID-19: J&J/Janssen update, Maio 16, 2021. Disponível em: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/vaccines/safety/JJUpdate.html. Acedido em maio 2021.
•CDC. Allergic reactions including anaphylaxis after receipt of the first dose of Moderna COVID-19 vaccine – United States, December 21, 2020 – January 10, 2021. Disponível em: https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/70/wr/mm7004e1.htm. Acedido em maio 2021.
•DGS. Covid-19. Perguntas frequentes. Disponível em: https://covid19.min-saude.pt/category/perguntas-frequentes/ Acedido em maio 2021.
•EMA. COVID-19 vaccine AstraZeneca: benefits till outweigh the risks despite possible link to rare blood clots with low platelets.
Disponível em: https://www.ema.europa.eu/en/news/covid-19-vaccine-astrazeneca-benefits-still-outweigh-risks-despite-possible-link-rare-blood-clots. Acedido em maio 2021.
•Greinacher A, et al. Thrombotic Thrombocytopenia after ChAdOx1 nCov-19 vaccination. NEJM 2021:doi 10.1056/NEJMoa2104840.
•IPCRG What are the safety concerns and what are the serious side effects reported with existing SARS-CoV-2 vaccines? Disponível em: https://www.ipcrg.org/resources/search-resources/what-are-the-safety-concerns-and-what-are-the-serious-side-effects
•Remmel A. COVID vaccines and safety: That the research says. Nature 2021;590:538-40.
•SPAIC: Vacinação contra a COVID-19. Disponível em: https://www.spaic.pt/noticias/vacinaocovid19. Acedido em maio 2021.
•WHO Team. How to monitor and report COVID-19 vaccine side effects. 15 March 2021. Disponível em: https://www.who.int/publications/m/item/how-to-monitor-and-report-covid-19-vaccine-side-effects. Acedido em maio 2021.
•Yuan P, et al. Safety, tolerability, and immunogenicity of COVID-19 vaccines: A systematic review and meta-analysis. Lancet 2021.Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3746259. Acedido em março 2021.